sexta-feira, 30 de abril de 2010

O cú das calças e a feira de Moura...

Depois de ler esta notícia, não posso deixar de reflectir sobre a mesma.

Onde alguns podem ver a ambição legítima de uma pessoa que quer engrandecer Beja através da concretização de 2 ou 3 projectos semelhantes a OVIBEJA ou não consigo deixar de ver um grande desfasamento da realidade.

Comecemos pelo principio, para concretizar um projecto desta envergadura é necessário não dar passos maiores que as pernas, ou seja é necessário um planeamento sustentado que não vise atingir o êxito no imediato, por norma este tipo de certames são implementados de uma forma gradual, crescendo de ano para ano, a OVIBEJA contabiliza 27 edições, são 27 anos de aprendizagem com os erros próprios para alcançar o sucesso que hoje têm, a OVIBEJA de hoje nada têm a ver com a há 10 anos atrás e muito menos terá a ver com a sua 7ª edição, logo ter a presunção de conseguir organizar 2 ou 3 eventos semelhantes cai no ridículo e menospreza o trabalho realizado por quem organiza a OVIBEJA.

Na melhor das hipóteses Pulido Valente terá um prazo temporal de 12 anos no leme do Município de Beja, pretendendo nesse espaço temporal concretizar 2 ou 3 eventos semelhantes de periodicidade bianual, ou seja o homem idealiza alcançar por 3 vezes e em 6 edições ou que outros “SÓ” conseguiram atingir em quase 3 décadas uma única vez…

Amanha* irá prometer implementar a Agência de Promoção Económica, um parque empresarial com uma política de solos que estimule o investimento, uma política de marketing territorial, bem como um Gabinete do Empreendedor, que seja uma ferramenta ao serviço dos empresários, nomeadamente em três áreas de excelência: vinho e azeite, aeronáutica, e água, ambiente e energia, a Loja do Cidadão, a Loja do Munícipe, uma Unidade de Cuidados Continuados, uma Unidade Móvel de Saúde e Companhia, bem como aumentar a escassa oferta de lugares em infantários ou melhorar a qualidade da democracia, com iniciativas como a Paxpédia, Bej@fácil e o Provedor do Munícipe...

*P.S. Fui agora informado que em Outubro passado já o fez.

Sei que em tempos de crise surgem por norma grandes heróis, talvez esteja encontrado o herói do nosso querido ALENTEJO

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Privatização dos CTT

Porquê a privatização dos CTT?

- não é para o Estado se libertar de uma empresa incómoda que dá prejuízos, porque os CTT, desde que são empresa, sempre deram lucros;

- não é para melhorar a gestão que, pelos vistos, tem agradado a todos os governos e, ainda por cima, goza de apreciável prestígio internacional;

- não é para que os portugueses sintam que têm um melhor serviço de correios porque, apesar de muitas queixas, eles continuam a sentir-se “confortáveis” com a “sua” empresa de correios. E, nas empresas já privatizadas, a única evidência que temos não é a de que o serviço que prestam melhorou, mas tão só a de que os enormes lucros que, apesar da crise, têm tido, vão para mãos privadas em vez de irem para os cofres do Estado;

- não é porque o serviço de correios está em extinção (a velhíssima ideia de que as telecomunicações seriam o coveiro dos correios) porque, apesar de começar a haver indícios de que o tráfego postal tradicional está a baixar irreversivelmente, há ainda muitos anos pela frente de cartas e encomendas para distribuir e os novos serviços que o correio presta (designadamente financeiros, publicidade e comunicações de todos os tipos) vão compensando essas perdas;

- e não é porque uma empresa privada seja capaz de fazer exactamente o mesmo que uma empresa pública, porque seguramente não o fará. Poderá até assegurar, nos serviços rentáveis, um bom serviço; mas os outros, os que o não são, mas que por razões de natureza social não podem deixar de ser prestados, ou serão deixados para trás ou terão que ser financiados pelo Estado.

Se não é de nada disto que se trata, então o que se está a fazer é tentar resolver um problema de contas do Estado com uma receita comprovadamente liberal, que Manuela Ferreira Leite utilizou em larga escala quando era ministra da finanças, então com a forte oposição do Partido Socialista.

Parecendo estar a resolver agora um problema, o governo está de facto a hipotecar o futuro. Ao vender uma empresa como os CTT, não está a aliviar o Estado de qualquer fardo, porque que os CTT nunca o foram, ou de responsabilidades que podem não ser suas: estará vender Estado, ou seja, a passá-lo para outras mãos. E estará a vendê-lo a baixo preço (vejam-se os valores porque foram vendidas as empresas já privatizadas) porque, em situação de fraqueza negocial do Estado, nenhum comprador estará disposto a comprar-lhe uma empresa pelo seu real valor. Mais grave ainda, estará a vender apenas o que é bom de uma boa empresa, preparando-se para fazer pagar aos portugueses a factura dos serviços sociais não rentáveis, que uma futura empresa privada não vai fazer sem a compensação adequada.

Mas o governo estará também a fragilizar a democracia, ao tomar decisões que qualquer governo futuro, ainda que seja eleito com um programa “nacionalizador”, terá imensas dificuldades em reverter. Prova disso são as acusações de irrealismo que por todo o lado surgem contra os partidos de esquerda que falam em “nacionalizações” de empresas estratégicas que foram privatizadas, porque o Estado não tem hoje o dinheiro necessário para pagar o que recebeu por elas, apesar de terem sido vendidas ao desbarato. E, passando serviços e funções estratégicas do Estado para o sector privado, que controlo poderá ter o povo português sobre a respectiva gestão?

A situação não podia ser portanto mais clara: com a privatização dos sectores mencionados pelo ministro das Finanças, onde se incluem os CTT, não vamos ter menos Estado: vamos ter mais Estado em mãos privadas e menos democracia nas mãos do povo.”



Agostinho Santos Silva (Quadro dos correios desde 1971 até se aposentar, há um ano e meio, foi, entre 1994 e 2008, director de equipamento postal e frota, director de sitemas de informação dos Correios e administrador da Mailtec, empresa pertencente aos CTT .) 
 
 
«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos .
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

José Saramago – Cadernos de Lanzarote – Diário III – pag. 148